Por Eduardo H.G. Furlanetto em 14/01/2024
A civilização egípcia, uma das mais antigas do mundo, possuía uma grande organização social e hierárquica desde seus primórdios, permitindo que as comunidades se estabelecessem por meio da prática da agricultura. Veremos a seguir os principais aspectos da cultura egípcia, como a sua administração, processos de mumificação, bem como o pensamento e formas de raciocínio dos antigos egípcios.
Na civilização egípcia, o faraó era o monarca absoluto, exercendo controle total sobre a terra e seus recursos, além de ser o comandante militar supremo e chefe de governo. A administração contava com um vizir como segundo no comando, responsável por coordenar diversos setores, como levantamentos fundiários, tesouraria e sistema legal. O país era dividido em 42 regiões administrativas chamadas nomos, cada uma governada por um nomarca, sob a jurisdição do vizir. Os templos desempenhavam papel crucial na economia, coletando e armazenando riquezas por meio de celeiros e tesourarias, gerenciados por superintendentes.
Os sacerdotes representavam o faraó em cerimônias religiosas, já que ele não podia estar presente em todos os templos. Nesse sentido, podemos destacar, o processo de mumificação, que variava de acordo com a posição social do indivíduo. Nos procedimentos mais elaborados, destinados à elite, o cérebro era extraído através das narinas e descartado. Posteriormente, faziam uma incisão no lado esquerdo do falecido para remover os órgãos internos, os quais eram depositados em vasos denominados canópicos, mantendo-se apenas o coração em seu lugar. O corpo permanecia por 40 dias em natrão para desidratação, seguido pelo preenchimento dos espaços vazios com ervas aromáticas, sendo as cavidades tampadas. Ao final do processo, que durava 70 dias, o corpo era enfaixado, e entre as faixas, os sacerdotes inseriam amuletos.
Devido à crença de que o sol iniciava sua jornada noturna a partir do mundo dos mortos, os egípcios eram sepultados na porção ocidental do deserto, onde erguiam monumentos grandiosos como pirâmides e túmulos esculpidos na rocha. Os menos favorecidos recebiam um tratamento mais simplificado.
Ademais, ainda é importante ressaltar o pensamento dos antigos egípcios, que se destaca, antes de tudo, por seu caráter pré-filosófico e mítico. O raciocínio egípcio fundamentava-se na acumulação de exemplos concretos, não em teorias gerais, proporcionando regras ou receitas práticas para diversas atividades. O mito explicava o mundo, descrevendo, em cada caso, como algum evento supostamente ocorreu pela primeira vez em um passado remoto. Um sentido cíclico do tempo e do universo fazia com que tais eventos mantivessem sua relevância e atualidade; o conhecimento mítico do passado permitiria compreender o desenvolvimento presente e futuro.
A civilização egípcia, venerável por sua antiguidade, revela-se como um intricado quebra-cabeça de organização social e hierarquia, fundamentado nos primórdios agrícolas que possibilitaram seu florescimento. Com um olhar para o passado mítico, os egípcios buscavam compreender o presente e antever o futuro, sustentando um sentido cíclico do tempo e do universo que ecoa a atualidade.
Por Eduardo H.G. Furlanetto em 13/01/2024
As últimas populações que vieram ocupar o Sul do Brasil provêm da Europa, África e Ásia, em uma etapa que continua até o presente. Sua presença modificou rapidamente a composição e distribuição dos povos indígenas, com uma velocidade distinta das mudanças ocorridas quando os Jê e os Guarani colonizaram a região. Os Xokleng e Kaingang, assim como os Guarani, invadiram e conquistaram territórios pertencentes às populações das tradições Umbu e Humaitá em um processo que durou cerca de 1.000 anos. No momento da chegada dos europeus, os Guarani e os Jê haviam praticamente eliminado ou reduzido drasticamente as populações Umbu e Humaitá da região do Planalto, sobrevivendo apenas as populações Umbu nas áreas de campo do Rio Grande do Sul e Uruguai.
Os europeus contaram com um elemento inédito que auxiliou significativamente no processo da população indígena: as epidemias. Varíola, gripe, sarampo, tifo, malária, tuberculose, pleurisia, caxumba, coqueluche, meningite e doenças venéreas agiam de forma isolada ou em conjunto, contribuindo para eliminar porções significativas das populações indígenas em cada área da Região Sul. As epidemias, paralelamente, contribuíam para desorganizar as estruturas sociais e a organização do trabalho em cada assentamento, bem como desestruturar as redes de alianças regionais, expondo as populações aos ataques militares europeus e de outros povos indígenas.
O essencial é que se deve considerar que a Região Sul não possuía áreas significativas desabitadas, como se pode verificar nas informações arqueológicas e nas fontes históricas do século XVI. Para os europeus conseguirem se estabelecer, houve um prolongado e diversificado processo de contato, área por área, distinto a cada período e conjuntura histórica, variando também conforme as populações envolvidas. Durante o século XVI, não houve uma ocupação efetiva da Região Sul por parte dos europeus, havendo basicamente a instalação de bases temporárias que serviam como ponto de comércio ou de partida de expedições em busca de nativos para os empreendimentos econômicos que eram desenvolvidos no litoral de São Vicente, Santos e, depois, Piratininga, bem como para a exportação de escravos para a Região Nordeste.
No litoral de Santa Catarina, até cerca de 1550, os espanhóis mantiveram alguns pontos de abastecimento e reparos náuticos, sempre relacionados com alianças comerciais baseadas na troca de mercadorias por alimentos e matérias-primas realizada com grupos Guarani. A partir da segunda metade do século XVII, até o princípio do século XX, os povos Kaingang e Xokleng tornaram-se a maior frente demográfica ao avanço colonial português e, depois, ao avanço brasileiro. Nos primeiros 150 anos da presença europeia, houve um sucessivo processo de redução demográfica Guarani, esvaziando o interior e o litoral, do Paraná ao Rio Grande do Sul, o que provocou uma remodelação na distribuição dos povos Kaingang e Xokleng.
O final do século XVIII e o século XIX foram marcados pelo avanço contínuo dos portugueses, tornados brasileiros a partir de 1822, e pela contínua redução das populações indígenas, que passaram a ser atacadas por grupos de extermínio financiados pelos governos provinciais. A partir do início do século XIX, começaram a ser introduzidos imigrantes alemães, italianos e de outras nacionalidades europeias, que foram sendo instalados nas fronteiras com os povos indígenas. Já no século XX, com a fundação do Serviço de Proteção ao Índio (SPI, atual Funai), passou a ser estabelecida a política de confinar os povos indígenas em reservas restritas, que persistem até a atualidade.
Pode se concluir que o processo de ocupação foi essencial para as diversas populações europeias. O desemprego emerge como o principal motivador para a emigração dos europeus, sendo que escolheram o Brasil devido à ausência da revolução industrial que se desenrolava em suas terras natais. Notavelmente, foram sobretudo os imigrantes alemães e italianos que inicialmente "povoaram" os vales e, posteriormente, estabeleceram picadas em locais de difícil acesso, formando colônias. Sem dúvida, essa migração introduziu uma herança de características arquitetônicas e culturais que se tornaram tradicionais em muitas regiões do Sul do país.
Porém, é crucial destacar que, apesar dos impactos positivos mencionados, esse fluxo migratório também acarretou desafios e transformações na dinâmica sociocultural da região. A convivência entre os imigrantes europeus e as comunidades indígenas preexistentes nem sempre se deu de maneira harmoniosa, muitas vezes resultando em conflitos territoriais e culturais que perduram até os dias atuais.